À espera das concessões

A VLI Logística, uma das maiores empresas de transporte ferroviário do País, se diz pronta para desembolsar o maior volume de investimentos de sua história. Só depende da renovação antecipada das concessões, que deve atrair R$ 30 bilhões em recursos

No centro de operações da VLI Logística, em Santos, no litoral paulista, dezenas de profissionais monitoram, 24 horas por dia, cada caminhão que chega ao terminal de cargas – chamado de Tiplam –, cada composição que se aproxima pelas ferrovias e cada navio que atraca ou zarpa de lá. É nesse local que o executivo baiano Marcelo Spinelli, presidente da companhia desde 2011, observa também com atenção cada passo das negociações para antecipar a renovação do contrato de concessão da Ferrovia Centro-Atlântica, uma linha que a VLI já opera, com 8 mil quilômetros de extensão e que passa por sete Estados mais o Distrito Federal.

A ideia do governo é oferecer às atuais administradoras das malhas ferroviárias – que mantêm contratos que vencem entre 2028 e 2034 – um prazo de três décadas em troca do compromisso de novos investimentos na modernização das linhas férreas e construção de novos trechos. As renovações, previstas para serem assinadas no segundo semestre deste ano, podem atrair de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões em novos recursos, pelos cálculos da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). “Essa iniciativa (a antecipação das renovações) dará início à maior onda de investimentos no modal ferroviário de todos os tempos”, afirma Spinelli, que acaba de encerrar um ciclo de investimentos de R$ 9 bilhões, entre 2014 e 2017. “Estamos preparados, com suporte dos acionistas, a multiplicar todos os números de nossa operação no País.”

O novo ciclo de investimentos pode superar os R$ 9 bilhões da rodada anterior. E os acionistas da VLI têm bala na agulha. A companhia foi criada em 2010 para administrar a operação logística da mineradora Vale, dona de uma fatia de 37,6% – o fundo canadense Brookfield (26,5%), o conglomerado industrial japonês Mitsui (20%) e o FI-FGTS (15,9%) são os outros sócios. “Vamos investir em todos os ativos que fizerem sentido para nossa operação, seja em renovação de concessões, leilão de novos trechos ou mesmo em portos em regiões estratégicas”, afirma Spinelli.

A definição dos investimentos da VLI, segundo Spinelli, deverá sair assim que houver sinal verde da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e do Tribunal de Contas da União (TCU) em relação à prorrogação antecipada das concessões ferroviárias, o que deve acontecer antes das eleições deste ano, em outubro. “O que está em análise é a definição do nível de serviço e de investimento que o governo terá nesses contratos”, diz Adalberto Vasconcelos, secretário especial do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), principal departamento do governo para estímulo ao investimento em infraestrutura. “Estamos conduzindo com cautela para evitar investimentos desnecessários, que poderiam prejudicar as concessões.”

A VLI não é a única que espera antecipar a renovação das concessões. Outras gigantes do setor estão qualificadas pela Lei 13.448, de 2017, originária da MP das Concessões, a antecipar os contratos de nove malhas ferroviárias no Brasil: a Rumo, a MRS, a Vale Estrada de Ferro Carajás (EFC) e a Vale Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM). A primeira a renovar deverá ser a Rumo, responsável pelo trecho Malha Paulista, que liga o interior do Estado ao Porto de Santos. Segundo Guilherme Penin, diretor institucional da empresa, o plano é desembolsar R$ 5 bilhões até 2023.

O plano da VLI, no entanto, é liderar investimentos que serão definidos pelo governo nos novos contratos. A enxurrada de recursos deverá ser despejada em obras civis de ampliação da capacidade, resolução de conflitos urbanos e em novos trilhos. “O impacto da prorrogação será muito positivo para toda a economia brasileira e para o setor de transporte”, afirma o diretor executivo da ANTF, Fernando Paes. Pelas projeções do governo, a antecipação das renovações fará com que as ferrovias passem dos atuais 15% da matriz logística brasileira para 31%, em sete anos. “Ainda assim estaremos atrás de países como Estados Unidos, onde o modal ferroviário representa 40%, e da China, da Austrália e da Rússia, que transportam por trilhos 80% de todos os seus produtos, mas já representará um grande avanço”, diz Paes.

Um estudo elaborado por pesquisadores da Fundação Getulio Vargas endossa os benefícios da prorrogação antecipada das concessões ferroviárias. Pelos cálculos da FGV, a antecipação de investimentos traria, de imediato, benefícios de aproximadamente R$ 10 bilhões. Desse total, uma fatia de 75% estaria relacionada à redução de custo de transporte, que migraria do caminhão para o trem. A redução de acidentes, diminuição de congestionamentos e da poluição, segundo Fernando Marcato, um dos autores do estudo, responderiam pelos 25% restantes. “O efeito multiplicador benéfico é imenso e reflete em diversos outros setores, com aumento da competitividade do agronegócio e a eficiência dos portos”, afirma Marcato. De acordo com o estudo, os investimentos gerados pelas renovações injetarão R$ 42,6 bilhões em toda a economia, com potencial de gerar 700 mil postos de trabalho e arrecadação de R$ 3,1 bilhões em impostos.

A prorrogação antecipada dos contratos de concessão também é vista com bons olhos pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). Na avaliação do presidente Venilton Tadini, os investimentos ajudarão a reduzir, significativamente, o chamado “Custo Brasil”. “Com os novos contratos, o custo do transporte será reduzido em 10,5%, gerando economia de R$ 33,5 bilhões às empresas brasileiras entre 2018 e 2025”, diz Tadini. “Por isso, essa prorrogação é fundamental para reduzir a defasagem do Brasil no campo da infraestrutura.”

Fora da antecipação dos contratos, a disputa nos leilões de novos trechos promete ser acirrada. A companhia russa RZD (Ferrovias Russas, na sigla em russo), confirmou que concorrerá pela inacabada Ferrovia Norte-Sul, uma das joias mais cobiçadas do setor ferroviário brasileiro, que liga o Centro-Oeste ao Norte do País. “Vamos partir com tudo e, no mínimo, fazer as concessionárias que já operam no país pagarem mais caro para arrematar a ferrovia”, afirmou Bernardo Figueiredo, representante dos russos no Brasil. A RZD transporta na Rússia 1 bilhão de passageiros por ano e 1 bilhão de toneladas de carga. “Temos operações de alto nível, que podem contribuir para o sistema no Brasil.” Ao que tudo indica, a VLI terá de enfrentar rivais de peso para colocar em prática seu ambicioso plano de expansão.

Fonte: IstoÉ Dinheiro

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