Globo Rural – CEO da AGCO fala sobre investimentos no Brasil e as dificuldades trazidas pela pandemia e a guerra para a indústria
A oferta de crédito não deve ser problema para a aquisição de máquinas agrícolas na safra 2022/2023. A avaliação foi feita por Eric Hansotia, CEO da AGCO, empresa detentora de marcas como Valtra, Massey Ferguson e Fendt, embora a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entidade representativa do setor, considerada insuficientes os R$ 10,16 bilhões previstos no Plano Safra 22/23 para o Moderfrota para aquisição de máquinas agrícolas (Moderfrota).
Em meio a um cenário político e econômico conturbado no Brasil, a AGCO, empresa de máquinas agrícolas detentora das marcas Valtra, Massey Ferguson e Fendt, deve investir R$ 340 milhões para ampliar a sua produção e distribuição no país. Durante passagem pelo Brasil, para um encontro com jornalistas realizado pela empresa, em Brasília (DF), Hansotia conversou com Globo Rural sobre as perspectivas para o setor agropecuário e as estratégias para enfrentar as diferentes crises globais que surgiram após a Covid-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia.
GLOBO RURAL: Atualmente o mundo enfrenta uma nova realidade após a guerra entre Rússia e Ucrânia e após a pandemia, com inflação e aumento de taxas de juros. Como isso impacta os negócios da AGCO?
ERIC HANSOTIA: Há uma série de desafios. De um lado, a guerra na Ucrânia impulsionou o preço das commodities como trigo, milho, soja. Cerca de 30% da oferta mundial de exportações saíram do mercado. Então, com uma menor oferta, há um gap e os preços subiram para tentar fechar esse gap. Isso gera um incentivo para que produtores do mundo todo produzam mais, mas, infelizmente, outra grande consequência foi a alta dos custos de produção. Eu conversei com um agricultor brasileiro há poucos dias e ele me disse que a alta para ele foi de 300%. Com isso, estamos desenvolvendo soluções que ajudem a obter mais produtividade com menor aplicação de fertilizantes, defensivos. Esse é o foco dos nossos investimentos.
Você também menciona a Covid-19. O grande desafio que ela trouxe foi a cadeia de suprimentos. Nós temos mais pedidos do que jamais tivemos na história da companhia, com uma forte demanda por máquinas inteligentes e a grande questão é conseguir componentes e fornecedores suficientes para conseguir fazer frente a esse desafio. Então, além dos investimentos, temos trabalhado diretamente com esse setor para ajuda-los a resolver os problemas que surgiram desde então e manter esse fluxo de fornecimento.
GR: Para vocês os custos também subiram? E como vocês estão lidando com essa situação? Estão conseguindo repassá-los?
EH: Sim, nós também estamos vendo os custos subirem para todos os nossos insumos. Os componentes, os serviços, e por aí vai. Por isso estamos trabalhando com foco em ganhar mais eficiência na companhia e entregando mais e consumindo menos. Para isso, implementamos uma série de melhorias em processos para termos certeza de que estamos sendo mais eficientes. Reorganizamos toda a companhia, temos 23 mil colaboradores e os reorganizamos para termos certeza que estamos fazendo o melhor que podemos para não ter que repassar toda a alta de custos para os nossos clientes.
GR: Os investimentos no Brasil são uma resposta a esses desafios?
EH: Absolutamente. Os investimentos em Mogi (das Cruzes, no interior de São Paulo) e Ibirubá (no Rio Grande do Sul), dois maiores, também foram pensados para oferecer mais eficiência na produção. Mais tecnologia nas fábricas significa maior facilidade para produzir mais máquinas a um custo menor.
GR: E vocês continuam tendo problemas para obter peças?
EH: Sim, estamos. Esse é de longe o principal desafio e já vem de alguns anos. Todos os componentes estão mais difíceis de serem encontrados, mas o mais desafiador tem sido os semicondutores. São os mesmos que vão em computadores e eletrônicos e há uma escassez mundial que faz com que tenhamos que buscar as mais diferentes formas de manter o fornecimento.
GR: Um dos pontos de preocupação do setor no Brasil é a disponibilidade de crédito. Apesar de haver oferta, as taxas estão maiores. Isso pode ser um problema para as vendas no país?
EH: Os produtores estão adquirindo cada vez menos as linhas oficiais. Nós trabalhamos muito próximo dos bancos dos Brasil e agências privadas e acreditamos que há crédito suficiente no mercado para os produtores interessados em adquirir máquinas.
GR: Sobre o mercado de armazenagem, como andam os negócios da AGCO no Brasil?
EH: Estão crescendo como nunca. Estamos operando com capacidade máxima com um volume de pedidos que jamais tivemos antes. Nós sabemos que o Brasil tem um déficit nesse sentido e estamos felizes de estarmos ajudando o setor a resolver esse problema.
Fonte: Globo Rural (https://globorural.globo.com/Noticias/Entrevista/noticia/2022/07/mercado-brasileiro-tem-credito-suficiente-para-compra-de-maquinas.html)
Share on social media