Os investimentos em infraestrutura são fundamentais não só para garantir maior crescimento à economia brasileira no longo prazo, mas também podem ajudar na reação já em curso da atividade. Segundo levantamento da consultoria The Boston Consulting Group (BCG) divulgado com exclusividade ao Valor, os projetos incluídos atualmente no portfólio de concessões do governo federal têm potencial para criar 124,8 mil empregos, sendo 41,9 mil destes diretos.
As concessões mais atrativas considerando esse critério são as de rodovias e ferrovias, que podem gerar 20 mil e 17 mil postos de trabalho diretos, respectivamente. Colocando na conta as vagas indiretas, o número de ocupações que podem ser abertas sobe para 60 mil na primeira modalidade e 50 mil na segunda.
Esse não é o único enfoque que deve ser analisado para priorizar e selecionar projetos, diz Thiago Cardoso, diretor do BCG. Na atual situação econômica do país, porém, existem motivos para se atribuir uma importância maior ao potencial de geração de empregos. “Historicamente, muitos projetos foram escolhidos com vieses políticos, pouco transparentes. Propomos uma priorização mais objetiva”, diz.
Com base em metodologia desenvolvida para um projeto em vários países da África, a estrutura proposta pela consultoria tem dois eixos principais para orientar a prioridade dada aos investimentos. O primeiro deles é seu impacto na sociedade, que avalia a população afetada, a capacidade de criação de postos de trabalho e de contribuição positiva para o desenvolvimento social. Ainda nesse quesito, são observados também o efeito de desafogamento dos projetos, seu impacto no PIB, a possível redução de custos para os usuários e, ainda, o potencial de contribuição para as receitas do governo.
No segundo enfoque – chamado pela consultoria de “viabilidade” – são considerados a sustentabilidade financeira dos projetos e a viabilidade de implementação, que é influenciada pela facilidade de realização e o interesse dos potenciais investidores. “Em geral, o peso de cada critério irá variar de acordo com o contexto de cada país. Por exemplo, na atual situação econômica do Brasil, há motivos para se atribuir uma importância maior ao potencial de geração de empregos”, aponta o BCG no estudo.
Aplicando a abordagem criada para concessões de ferrovias, a construção ao acesso ao Porto de Santos, a conclusão do projeto do Ferroanel, em São Paulo, e da Ferrogrão, ferrovia concebida para escoar a safra de grãos do Mato Grosso para os portos da região Norte, deveriam ser priorizados em função de seus impactos sociais e econômicos. De acordo com a consultoria, esses três projetos podem gerar um número estimado de 20 mil postos de trabalho.
Outro aspecto mencionado pelo BCG no estudo é o número de ocupações que podem ser abertas por bilhão investido. Nessa análise, os investimentos mais eficientes seriam em portos marítimos, que têm potencial para gerar 5,1 mil vagas por R$ 1 bilhão gasto, seguidos de hospitais (4,5 mil vagas), óleo e gás (4,2 mil vagas), aeroportos (3,9 mil vagas).
É preciso considerar, ainda, a qualidade dos postos de trabalho gerados por cada projeto. Em artigo publicado no início do ano, o BCG e a CG/LA Infraestructure concluíram que portos marítimos, hospitais e aeroportos são os investimentos mais vantajosos sob esse aspecto, uma vez que geram empregos mais duradouros, como a operação e manutenção do ativo durante seu tempo de vida útil.
Já no caso de rodovias e ferrovias, que têm maior capacidade de criação de vagas, a sustentabilidade desses empregos é mais reduzida, aponta o BCG. “A maioria da força de trabalho é demitida após a conclusão do projeto de construção, que exige menos pessoas para sua operação e manutenção”, afirma o estudo.
Se os projetos com maior índice de empregabilidade fossem priorizados, certamente a taxa de desemprego – que era de 12,6% nos três meses encerrados em agosto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE – diminuiria, diz Cardoso. Levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que a construção civil e a infraestrutura respondem por aproximadamente 10% dos empregos no Brasil, destaca.
“Nosso apelo é que as decisões nesses investimentos não podem ser precipitadas. É preciso uma metodologia de seleção mais robusta”, resume o diretor. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal trouxe vantagens porque deu maior transparência ao processo e abriu um diálogo maior com o setor privado, afirma, mas seu foco é apenas em projetos de curto prazo.
“O hiato de infraestrutura no Brasil é tão grande que precisamos fazer projetos urgentes, mas a dúvida que fica é como será o planejamento de longo prazo nessa área. Aí, o governo vai precisar ter uma metodologia de seleção”, disse Cardoso.
Fonte: Valor Econômico
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